quarta-feira, 16 de maio de 2012

Os Caprichos de Goya.

Vicente López Portaña (1772 - 1850), "Retrato de Francisco de Goya" - 1826.












Francisco José de Goya y Lucientes (FuendetodosSaragoça30 de março de 1746 — BordéusFrança15 de abril de 1828), foi um pintor e gravador espanhol. Conhecido como "Goya, o Turbulento" e considerado às vezes como "o Shakespeare do pincel", suas produções artísticas incluem uma ampla variedade representativa de retratos, paisagens, cenas mitológicas, tragédia, comédia, sátira, farsa, homens, deuses e demônios, feiticeiros, e um pouco do obsceno.


De todos os trabalhos de Goya o que mais aprecio são as gravuras, particularmente esta série: Os Caprichos.
Os Caprichos são uma série de 80 provas em agua-tinta e água-forte, criadas entre 1797 e 1798, e publicadas como álbum em 1799. 
Estas provas foram uma experiência artística, um meio para Goya condenar o que achava mal na sociedade espanhola da altura.
As criticas são feitas em relação à predominância da superstição, a casamentos mal feitos, o declínio da racionalidade, a religião e outros.


Estas gravuras influenciaram e fizeram vários artistas reflectir sobre elas ao longo do tempo, particularmente Delacroix, Manet, Toulouse-Lautrec, Nolde, Klee ou André Malraux. 



Em Escritos sobre arte - Alguns caricaturistas estrangeiros, do poeta e crítico Charles Baudelaire (1857), o autor nos revela o elemento muito raro que Goya introduz no cômico: o fantástico. Ou seja, o olhar que o artista lança sobre as coisas é um tradutor naturalmente fantástico. 





   



Em Os Caprichos observamos uma obra maravilhosa não só pela originalidade das concepções, mas também pela execução. Segundo Baudelaire, o olhar de Goya diante de Os Caprichos, revela o homem um curioso, um amante, não tendo nenhuma noção dos fatos históricos aos quais várias dessas pranchas fazem alusão, um simples espiríto de artista que não saiba quem é Godói, nem rei Carlos, nem a rainha; experimentará, todavia, no fundo do seu cérebro, uma viva comoção por causa da maneira original, da plenitude e da certeza dos meios do artista, e também dessa atmosfera fantástica que envolve todos os seus temas. 





   



Para Charles Baudelaire, há nas obras de Goya profundas individualidades algo que se assemelha a esses sonhos periódicos ou crônicos que assediam regularmente nosso sono. É isso que marca o verdadeiro artista, sempre durável e vivaz, inclusive nessas obras fugazes, por assim dizer, suspensas nos acontecimentos, denominadas caricaturas; é isso, eu dizia, o que distingue os caricaturistas históricos dos caricaturistas artísticas, o cômico fugaz do cômico eterno.

   

Goya é sempre um grande artista, com frequência, assustador. Ele une à graça, à jovialidade, à sátira espanhola do bom tempo de Cervantes, um espírito bem mais moderno ou, pelo menos, que foi bem mais escrutado nos tempos modernos, o amor pelo inapreensível, o sentimento pelo contrastes violentos, pelos espantos  da natureza e pelas fisionomias humanas estranhamente animalizadas pelas circunstâncias. 


  

É algo curioso de observar que surge após o grande movimento satírico e demolidor do século XVIII e com quem Voltaire se mostraria satisfeito pela ideia paenas (pois o pobre grande homem mal se conhecia quanto ao resto), de todas as caricaturas monacais - monges bocejantes, monges glutões, feições ardilosas, hipócritas, finas e perversas como perfis de aves de rapina...






A luz e as trevas se divertem através de todos esses grotescos horrores.



Fontes: Wikipédia e Charles Baudelaire (organização e tradução de Plínio Augusto Coêlho), Escritos sobre arte - 18571, editora Hedra - São Paulo, 2008. 






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