quinta-feira, 8 de março de 2012

Poema - Transfiguração
























Transfiguração 



Tens agora outro rosto, outra beleza:

Um rosto que é preciso imaginar,

E uma beleza mais furtiva ainda…

Assim te modelaram, caprichosas,

As sombras da lonjura,

Mãos irreais que tornam irreal

O barro que nos foge da retina.

Barro que em ti passou de luz carnal

A bruma feminina….



Mas nesse novo encanto

Te conjuro

Que permaneças.

Distante e preservada na distância.

Olímpica recusa, disfarçada

De terrena promessa

Feita aos olhos tentados e descrentes.

Nenhum mito regressa…

Todas as deusas são mulheres ausentes…




Miguel Torga
Coimbra, 20 de Março de 1963
Diário IX

Nenhum comentário:

Postar um comentário