Em 2012 é comemorado 105 anos de um dos maiores gênios do choro e da Música Popular Brasileira, Pixinguinha.
Rosa
Pixinguinha
Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
Era preciso que um poeta brasileiro,
não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa,
girando um pouco em tua atmosfera ou nela aspirando a viver
como na poética e essencial atmosfera dos sonhos lúcidos,
era preciso que esse pequeno cantor teimoso,
de ritmos elementares, vindo da cidadezinha do interior
onde nem sempre se usa gravatas mas todos são extremamente polidos
e a opressão é detestada, se bem que o heroísmo se banhe em ironia,
era preciso que um antigo rapaz de vinte anos,
preso à tua pantomima por filamentos de ternura e riso dispersos no tempo,
viesse recompô-los e, homem maduro, te visitasse
para dizer-te algumas coisas, sobcolor de poema.
Para dizer-te como os brasileiros te amam
e que nisso, como em tudo mais, nossa gente se parece
com qualquer gente do mundo - inclusive os pequenos judeus
de bengalinha e chapéu-coco, sapatos compridos, olhos melancólicos,
vagabundos que o mundo repeliu, mas zombam e vivem
nos filmes, nas ruas tortas com tabuletas: Fábrica, Barbeiro, Polícia,
e vencem a fome, iludem a brutalidade, prolongam o amor
como um segredo dito no ouvido de um homem do povo caído na rua.
Bem sei que o discurso, acalanto burguês, não te envaidece,
e costumas dormir enquanto os veementes inauguram estátua,
e entre tantas palavras que como carros percorrem as ruas,
só as mais humildes, de xingamento ou beijo, te penetram.
Não é a saudação dos devotos nem dos partidários que te ofereço,
eles não existem, mas a de homens comuns, numa cidade comum,
nem faço muita questão da matéria de meu canto ora em torno de ti
como um ramo de flores absurdas mando por via postal ao inventor dos jardins.
Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo,
que entraram no cinema com a aflição de ratos fugindo da vida,
são duras horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
visitemos no escuro as imagens - e te descobriram e salvaram-se.
Falam por mim os abandonados da justiça, os simples de coração,
os parias, os falidos, os mutilados, os deficientes, os indecisos, os líricos, os cismarentos,
os irresponsáveis, os pueris, os cariciosos, os loucos e os patéticos.
E falam as flores que tanto amas quando pisadas,
falam os tocos de vela, que comes na extrema penúria, falam a mesa, os botões,
os instrumentos do ofício e as mil coisas aparentemente fechadas,
cada troço, cada objeto do sótão, quanto mais obscuros mais falam.
II
A noite banha tua roupa.
Mal a disfarças no colete mosqueado,
no gelado peitilho de baile,
de um impossível baile sem orquídeas.
És condenado ao negro. Tuas calças
confundem-se com a treva. Teus sapatos
inchados, no escuro do beco,
são cogumelos noturnos. A quase cartola,
sol negro, cobre tudo isto, sem raios.
Assim, noturno cidadão de uma república
enlutada, surges a nossos olhos
pessimistas, que te inspecionam e meditam:
Eis o tenebroso, o viúvo, o inconsolado,
o corvo, o nunca-mais, o chegado muito tarde
a um mundo muito velho.
E a lua pousa
em teu rosto. Branco, de morte caiado,
que sepulcros evoca mas que hastes
submarinas e álgidas e espelhos
e lírios que o tirano decepou, e faces
amortalhadas em farinha. O bigode
negro cresce em ti como um aviso
e logo se interrompe. É negro, curto,
espesso. O rosto branco, de lunar matéria,
face cortada em lençol, risco na parede,
caderno de infância, apenas imagem
entretanto os olhos são profundos e a boca vem de longe,
sozinha, experiente, calada vem a boca
sorrir, aurora, para todos.
E já não sentimos a noite,
e a morte nos evita, e diminuímos
como se ao contato de tua bengala mágica voltássemos
ao país secreto onde dormem os meninos.
Já não é o escritório e mil fichas,
nem a garagem, a universidade, o alarme,
é realmente a rua abolida, lojas repletas,
e vamos contigo arrebentar vidraças,
e vamos jogar o guarda no chão,
e na pessoa humana vamos redescobrir
aquele lugar - cuidado! - que atrai os pontapés: sentenças
de uma justiça não oficial.
III
Cheio de sugestões alimentícias, matas a fome
dos que não foram chamados à ceia celeste
ou industrial. Há ossos, há pudins
de gelatina e cereja e chocolate e nuvens
nas dobras do teu casaco. Estão guardados
para uma criança ou um cão. Pois bem conheces
a importância da comida, o gosto da carne,
o cheiro da sopa, a maciez amarela da batata,
e sabes a arte sutil de transformar em macarrão
o humilde cordão de teus sapatos.
Mais uma vez jantaste: a vida é boa.
Cabe um cigarro: e o tiras
da lata de sardinhas.
Não há muitos jantares no mundo, já sabias,
e os mais belos frangos
são protegidos em pratos chineses por vidros espessos.
Há sempre o vidro, e não se quebra,
há o aço, o amianto, a lei,
há milícias inteiras protegendo o frango,
e há uma fome que vem do Canadá, um vento,
uma voz glacial, um sopro de inverno, uma folha
baila indecisa e pousa em teu ombro: mensagem pálida
que mal decifras
o cristal infrangível. Entre a mão e a fome,
os valos da lei, as léguas. Então te transformas
tu mesmo no grande frango assado que flutua
sobre todas as fomes, no ar; frango de ouro
e chama, comida geral, que tarda.
IV
O próprio ano novo tarda. E com ele as amadas.
No festim solitário teus dons se aguçam.
És espiritual e dançarino e fluido,
mas ninguém virá aqui saber como amas
com fervor de diamante e delicadeza de alva,
como, por tua mão a cabana se faz lua.
Mundo de neve e sal, de gramofones roucos
urrando longe o gozo de que não participas.
Mundo fechado, que aprisiona as amadas
e todo o desejo, na noite, de comunicação.
Teu palácio se esvai, lambe-te o sono,
ninguém te quis, todos possuem,
tudo buscaste dar, não te tomaram.
Então encaminhas no gelo e rondas o grito.
Mas não tens gula de festa, nem orgulho
nem ferida nem raiva nem malícia.
És o próprio ano-bom, que te deténs. A casa passa
correndo, os copos voam,
os corpos saltam rápido, as amadas
te procuram na noite... e não te vêem,
tu pequeno, tu simples, tu qualquer.
Ser tão sozinho em meio a tantos ombros,
andar aos mil num corpo só, franzino,
e ter braços enormes sobre as casas,
ter um pé em Guerrero e outro no Texas,
falar assim a chinês a maranhense,
a russo, a negro: ser um só, de todos,
sem palavra, sem filtro,
sem opala:
há uma cidade em ti, que não sabemos.
V
Uma cega te ama. Os olhos abrem-se.
Não, não te ama. Um rico, em álcool,
é teu amigo e lúcido repele
tua riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos
o que há de água, de sopro e de inocência
no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos
que cultuamos, falsos: flores pardas,
anjos desleais, cofres redondos, arquejos
poéticos acadêmicos; convenções
do branco, azul e roxo; maquinismos,
telegramas em série, e fábricas e fábricas
e fábricas de lâmpadas, proibições, auroras.
Ficaste apenas um operário
comandado pela voz colérica do megafone.
És parafuso, gesto, esgar.
Recolho teus pedaços: ainda vibram,
lagarto mutilado.
Colo teus pedaços. Unidade
estranha é a tua, em mundo assim pulverizado.
E nós, que a cada passo nos cobrimos
e nos despimos e nos mascaramos,
mal retemos em ti o mesmo homem,
aprendiz
bombeiro
caixeiro
doceiro
emigrante
forçado
maquinista
noivo
patinador
soldado
músico
peregrino
artista de circo
marquês
marinheiro
carregador de piano
apenas sempre entretanto tu mesmo,
o que não está de acordo e é meigo,
o incapaz de propriedade, o pé
errante, a estrada
fugindo, o amigo
que desejaríamos reter
na chuva, no espelho, na memória
e todavia perdemos
VI
Já não penso em ti. Penso no ofício
a que te entregas. Estranho relojoeiro
cheiras a peça desmontada: as molas unem-se,
o tempo anda. És vidraceiro.
Varres a rua. Não importa
que o desejo de partir te roa; e a esquina
faça de ti outro homem; e a lógica
te afaste de seus frios privilégios.
Há o trabalho em ti, mas caprichoso,
mas benigno,
e dele surgem artes não burguesas,
produtos de ar e lágrimas, indumentos
que nos dão asa ou pétalas, e trens
e navios sem aço, onde os amigos
fazendo roda viajam pelo tempo,
livros se animam, quadros se conversam,
e tudo libertado se resolve
numa efusão de amor sem paga, e riso, e sol.
O ofício é o ofício
que assim te põe no meio de nós todos,
vagabundo entre dois horários; mão sabida
no bater, no cortar, no fiar, no rebocar,
o pé insiste em levar-te pelo mundo,
a mão pega a ferramenta: é uma navalha,
e ao compasso de Brahms fazes a barba
neste salão desmemoriado no centro do mundo oprimido
onde ao fim de tanto silêncio e oco te recobramos.
Foi bom que te calasses.
Meditavas na sombra das chaves,
das correntes, das roupas riscadas, das cercas de arame,
juntavas palavras duras, pedras, cimento, bombas, invectivas,
anotavas com lápis secreto a morte de mil, a boca sangrenta
de mil, os braços cruzados de mil.
E nada dizias. E um bolo, um engulho
formando-se. E as palavras subindo.
Ó palavras desmoralizadas, entretanto salvas, ditas de novo.
Poder da voz humana inventando novos vocábulos e dando sopros exaustos.
Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor profundo,
crispação do ser humano, árvore irritada, contra a miséria e a fúria dos ditadores,
ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode
caminham numa estrada de pó e de esperança.
Fonte: ANDRADRE, Carlos Drummond de, Antologia Poética, 40ª edição - Rio de Janeiro, editora: Record, 1998.
Os gregos criaram vários mitos para
poder passar mensagens para as pessoas e também com o objetivo de preservar a
memória histórica de seu povo. Há três mil anos, não havia explicações
científicas para grande parte dos fenômenos da natureza ou para os
acontecimentos históricos.
Portanto, para buscar um significado
para os fatos políticos, econômicos e sociais, os gregos criaram uma série de
histórias, de origem imaginativa, que eram transmitidas, principalmente,
através da literatura oral.
Grande parte destas lendas e
mitos chegou até os dias de hoje e são importantes fontes de informações para
entendermos a história da civilização da Grécia
Antiga. São histórias riquíssimas em dados psicológicos, econômicos,
materiais, artísticos, políticos e culturais.
Entendendo a Mitologia Grega.
Os gregos antigos enxergavam vida em quase tudo que os
cercavam, e buscavam explicações para tudo. A imaginação fértil deste povo
criou personagens e figuras mitológicas das mais diversas. Heróis, deuses,
ninfas, titãs e centauros habitavam o mundo material, influenciando em suas
vidas. Bastava ler os sinais da natureza, para conseguir atingir seus
objetivos. A pitonisa, espécie de sacerdotisa, era uma importante personagem
neste contexto. Os gregos a consultavam em seus oráculos para saber sobre as
coisas que estavam acontecendo e também sobre o futuro. Quase sempre, a pitonisa
buscava explicações mitológicas para tais acontecimentos. Agradar uma divindade
era condição fundamental para atingir bons resultados na vida material. Um
trabalhador do comércio, por exemplo, deveria deixar o deus Hermes sempre
satisfeito, para conseguir bons resultados em seu trabalho.
Os principais seres mitológicos da Grécia Antiga eram :
- Heróis : seres mortais, filhos de deuses com seres humanos. Exemplos :
Herácles ou Hércules e Aquiles.
- Ninfas: seres femininos que
habitavam os campos e bosques, levando alegria e felicidade.
- Sátiros : figura com corpo de
homem, chifres e patas de bode.
- Centauros : corpo formado por uma
metade de homem e outra de cavalo.
- Sereias : mulheres com metade do
corpo de peixe, atraíam os marinheiros com seus cantos atraentes.
- Górgonas : mulheres, espécies de monstros, com cabelos de serpentes.
Exemplo: Medusa
- Quimera: mistura de leão e cabra,
soltavam fogo pelas ventas.
- Medusa: mulher com serpentes na cabeça
Obra de Bernini - Museus Capitolinos, Roma.
O Minotauro
Éum dos mitos mais conhecidos
e já foi tema de filmes, desenhos animados, peças de teatro, jogos etc. Esse
monstro tinha corpo de homem e cabeça de touro. Forte e feroz, habitava um
labirinto na ilha de Creta. Alimentava-se de sete rapazes e sete moças gregas,
que deveriam ser enviadas pelo rei Egeu ao Rei Minos, que os enviavam ao
labirinto. Muitos gregos tentaram matar o minotauro, porém acabavam se perdendo
no labirinto ou mortos pelo monstro.
Busto do Minotauro - Museu Arqueológico Nacional de Atenas.
Certo dia, o rei Egeu resolveu enviar
para a ilha de Creta seu filho, Teseu, que deveria matar o minotauro. Teseu
recebeu da filha do rei de Creta, Ariadne, um novelo de lã e uma espada. O
herói entrou no labirinto, matou o Minotauro com um golpe de espada e saiu
usando o fio de lã que havia marcado todo o caminho percorrido.
Deuses gregos
De acordo com o gregos, os deuses
habitavam o topo do Monte Olimpo, principal montanha da Grécia Antiga. Deste
local, comandavam o trabalho e as relações sociais e políticas dos seres
humanos. Os deuses gregos eram imortais, porém possuíam características de
seres humanos.
Ciúmes, inveja, traição e violência
também eram características encontradas no Olimpo. Muitas vezes, apaixonavam-se
por mortais e acabavam tendo filhos com estes. Desta união entre deuses e
mortais surgiam os heróis.
Conheça os principais deuses gregos :
Zeus - deus de todos os deuses, senhor do Céu.
Afrodite - deusa do amor, sexo e beleza.
Poseidon - deus dos mares
Poseidon
Hades - deus das almas dos mortos, dos cemitérios e do subterrâneo.
Apolo - deus da luz e das obras de artes.
Apolo e as Ninfas - de Françõis Girardon (1666 - 73), na Gruta de Apolo em Versalhes
Hera - deusa dos casamentos e da maternidade.
Ártemis - deusa da caça e da vida selvagem.
Ares - divindade da guerra.
Ares
Atena Giustiniani - cópia romana de original grego atribuído a Fídias. Museus Vaticano.
Atena - deusa da sabedoria e da serenidade. Protetora da cidade de Atenas.
Cronos - deus da agricultura que também
simbolizava o tempo.
Cronos
Atribuído a Fídias. Hermes Logios, cópia romana - século I - II - Museu Nacional Romano, Roma.
Hermes - mensageiro dos deuses, representava o comércio e as
comunicações.
Hefesto - divindade do fogo e do trabalho.
A força de Vulcano, pintura de Velázques - 1630.
Fontes: Enciclopédia da Mitologia Grega, imagens do Google.
Jean-Baptiste
Debret foi um importante artista plástico (pintor e desenhista) francês. Nasceu
em 18 de abril de 1768, em Paris, e faleceu na mesma cidade em 28 de junho de
1848. Debret integrou a Missão Artística Francesa que chegou ao Brasil em 26 de
março de 1816. Suas obras formam um importante acervo para o estudo da história
e cultura brasileira da primeira metade do século XIX.
Rugendas, Johan
Moritz (1802-1858), pintor alemão de cenas
brasileiras, nasceu em Augsburg, em 29 de março de 1802 e faleceu em Weilheim,
em 29 de maio de 1858. Chegou ao Brasil, em 1821, na expedição do barão de
Langsdorff, viajando pelo país a fim de coletar material para pinturas e
desenhos. Visitou, também, outros países hispano-americanos com o mesmo
objetivo. Sua temática era predominantemente paisagística e de representação de
cenas do cotidiano. Escreveu o livro Viagem pitoresca ao Brasil.