"Minha alma deseja a
revolução e minhas mãos trabalham para a revolução. Porém o que é revolução ?
Uma revolução é a mudança total das leis naturais e sociais. Uma revolução só
pode se realizar quando a morte vence a vida, porém ao mesmo tempo a morte é o
nada e o nada é contra-revolucionário".
FICHA TÉCNICA
Ficção, longa-metragem, 35mm, preto e branco. Rio de Janeiro, 1964, 3.400 metros,125 minutos; Companhia produtora: Copacabana Filmes; Distribuição: Copacabana Filmes; Lançamento: 10 de julho de 1964, Rio de Janeiro (Caruso, Bruni-Flamengo e Ópera); Produtor: Luiz Augusto Mendes; Produtores associados: Jarbas Barbosa, Glauber Rocha; Diretor de produção: Agnaldo Azevedo; Diretor:Glauber Rocha; Assistentes de direção: Paulo Gil Soares, Walter Lima.Jr.;Argumentista: Glauber Rocha; Roteiristas: Glauber Rocha, Walter Lima Jr.; Diálogos: Glauber Rocha, Paulo Gil Soares; Direção de fotografia e câmera: Waldemar Lima; Cenógrafo e Figurinista: Paulo Gil Soares; Letreiros: Lygia Pape;Gravuras: Calasans Neto; Cartaz:Rogério Duarte; Música: Villa-Lobos; Canções: Sérgio Ricardo (melodia), Glauber Rocha (letra); Violão e voz: Sérgio Ricardo;Continuidade: Walter Lima Jr.; Locações: Monte Santo, Feira de Santana, Salvador, Canché (Cocorobó), Canudos (BA); Prêmios: Prêmio da Crítica Mexicana - Festival Internacional de Acapulco, México, 1964; Grande Prêmio Festival de Cinema Livre, Itália, 1964; Náiade de Ouro - Festival Internacional de Porreta Terme, Itália, 1964; Troféu Saci/ Melhor Ator Coadjuvante: Maurício do Valle, 1965; Grande Prêmio Latino Americano - I Festival Internacional de Mar del Plata, Argentina, 1966.Elenco: Geraldo Del Rey - Manuel; Yoná Magalhães - Rosa; Maurício do Valle - Antonio das Mortes; Othon Bastos - Corisco, Lídio Silva - Sebastião; Sônia dos Humildes - Dadá; Marrom - Cego Julio; Antônio Pinto - Coronel; João Gama - Padre; Milton Roda - Coronel Moraes; Roque; Moradores de Monte Santo.
SINOPSE
"Eu parti do texto poético. A origem de "Deus e o Diabo..." é uma língua metafórica, a literatura de cordel. No Nordeste, os cegos, nos circos, nas feiras, nos teatros populares, começam uma história cantando: eu vou lhes contar uma história que é de verdade e de imaginação, ou então que é imaginação verdadeira. Toda minha formação foi feita nesse clima. A idéia do filme me veio espontaneamente."
Glauber Rocha
COMENTÁRIO
"Que conta Deus e o
Diabo na Terra do Sol ?
O argumento de Deus e o
Diabo na Terra do Sol é uma síntese de fatos e personagens históricos concretos
(o cangaço e o mandonismo local dos coronéis no Nordeste, o beatismo ou
misticismo de base milenarista, a literatura de Cordel, Lampião e Corisco, Euclides
da Cunha e Guimarães Rosa, Antônio Conselheiro e Antônio Pernambucano (jagunço
ou assassino de encomenda de Vitória da Conquista). O vaqueiro Manuel se
revolta contra a exploração de que é vítima por parte do coronel Morais e
mata-o durante uma briga. Foge com a esposa Rosa da perseguição dos jagunços e
acaba se integrando aos seguidores do beato Sebastião, no lugar sagrado de
Monte Santo, que promete a prosperidade e o fim dos sofrimentos através do
retorno a um catolicismo místico e ritual. Ao presenciar o sacrifício de uma
criança, Rosa mata o beato. Ao mesmo tempo, o matador de aluguel Antônio das
Mortes, a serviço dos coronéis latifundiários e da Igreja Católica, extermina
os seguidores do beato. Em nova fuga, Manoel e Rosa se juntam a Corisco, o diabo
loiro, companheiro de Lampião que sobreviveu ao massacre do bando. Antônio das
Mortes persegue de forma implacável e termina por matar e degolar Corisco,
seguindo-se nova fuga de Manoel e Rosa, desta vez em direção ao mar.
No início, conta a estória, tão freqüente na literatura verista do século XIX,
do camponês que, num momento de desespero, mata o patrão escravista. Mas, desde
o momento em que Manuel se embrenha na caatinga e se junta ao bando dos
fanáticos seguidores do Santo Sebastião -- um profeta negro que afirma que um
dia o mar vai virar sertão e o sertão vai virar mar e que o sol choverá ouro e
que, portanto, para provocar esse milagre, é preciso matar todos os que fazem o
mal, isto é, principalmente os padres e as prostitutas --, desse momento em
diante, o filme conta algo de muito moderno: as alucinações, as visões, as
práticas e os modos de conduta aberrantes que a fome, a miséria e a ignorância
podem inspirar num povo desesperado.
Em São Sebastião e seus
seguidores, fome, ignorância e miséria fazem arder uma loucura que os impele
até aos sacrifícios humanos; no cangaceiro Corisco, a cujo bando Manuel se
junta depois que o Santo Sebastião e seu grupo são destruídos, fome, ignorância
e miséria fomentam uma ferocidade insaciável, sistemática, demoníaca.
Assim, o Santo Sebastião e
Corisco representam Deus e o diabo, ambos deformados e transtornados pela
solidão do sertão. De maneira característica, a solução do problema social
representado por figuras como o Santo Sebastião e Corisco é confiada à carabina
infalível deAntônio das Mortes, matador profissional, figura sinistra,
melancólica e lógica de assassino visionário, o qual imagina que, uma vez
eliminados o diabo (Corisco) e Deus (o Santo Sebastião), haverá então a guerra
de libertação, ou melhor, a revolução, que redimirá o sertão. É assim que
Antônio das Mortes fulmina o profeta e o bandido. Manuel, símbolo do povo
brasileiro, escapa, testemunha viva da verdade das teses do filme."
Alberto Moravia,
trecho de artigo no semanário L’Espresso, 16/08/64, Roma.
Fonte: www.tempoglauber.com.br
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