"A eternidade é o mar mesclado
ao sol."
Da série Rimbaud in New York, de David Wojnarowicz.
Os corvos
Arthur Rimbaud
Ó Deus, quando frio é o prado,
Quando as aldeias se abalaram,
Os longos ângelus se calaram...
Sobre o mato descampado
Faça cair dos altos céus
Os queridos corvos deliciosos.
Estranho exército de gritos severos,
Ventos frios atacam vossos ninhos!
Vós, ao longo dos rios daninhos,
Nos caminhos de antigos calvários,
Nas covas e nas fossas
Dispersai-vos, agrupai-vos!
Aos milhares, nos campos de França,
Onde dormem mortos de ontem,
Volteiem, no inverno, afrontem,
Para que cada um repense!
Seja quem clama pelo dever
Ó nosso fúnebre pássaro negro!
Mas, santos do céu, no alto da árvore,
Mastro perdido na noite benta,
Deixem os pássaros de maio
Para quem na floresta acorrenta,
Da grama de onde não se foge,
A derrota sem futuro.
Canção da Mais Alta da Torre I
Ociosa juventude
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! Que venha o dia
Em que os corações se amem.
Eu me dissea: cessa,
E ninguém te via:
E sem a promessa
De mais alta alegria.
Que nada te detenha
Grandiosa retirada.
Tive tanta paciência
Que para sempre esqueço;
Temor e penitência
Aos céus partiram.
E a sede doentia
Me escurece as veias.
Assim o prado
Ao esquecimento deixado,
Engrandece, e floresce
De joio e incenso
Ao zumbir tenso
De cem moscas sujas.
Ah! Tanta viuvez
Da alma que chora
E só tem a imagem
Da Nossa Senhora!
Será que se ora
À Virgem Maria?
Ociosa juventude
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! Que venha o dia
Em que os coraçõres se amem!
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! Que venha o dia
Em que os corações se amem.
Eu me dissea: cessa,
E ninguém te via:
E sem a promessa
De mais alta alegria.
Que nada te detenha
Grandiosa retirada.
Tive tanta paciência
Que para sempre esqueço;
Temor e penitência
Aos céus partiram.
E a sede doentia
Me escurece as veias.
Assim o prado
Ao esquecimento deixado,
Engrandece, e floresce
De joio e incenso
Ao zumbir tenso
De cem moscas sujas.
Ah! Tanta viuvez
Da alma que chora
E só tem a imagem
Da Nossa Senhora!
Será que se ora
À Virgem Maria?
Ociosa juventude
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! Que venha o dia
Em que os coraçõres se amem!
Canção da Mais Alta da Torre II
Que
venha, que venha
O
tempo da paixão...
Tive
tanta paciência
Que
para sempre esqueço.
Temor
e penitência
Aos
céus partiram.
E a
sede doentia
Me
escurece as veias.
Que
venha, que venha
O
tempo da paixão.
Assim
o prado
Ao
esquecimento deixado,
Engrandece,
e floresce
De
joio e incenso,
Ao
zumbir tenso
Das
moscas sujas.
Que
venha, que venha,
A
paixão que se empenha.
Eu
amava o deserto, os pomares queimados, as lojas desbotadas, as bebidas mornas.
Eu me arrastava nas vielas fedidas e, os olhos cerrados, me oferecia ao sol,
deus de fogo.
“General,
se sobrar um velho canhão nas tuas muralhas em ruínas, bombardea-nos com blocos
de terra seca. Nas vitrines das lojas maravilhosas! Nos salões! Faz a cidade
comer o seu pó.
Enferruja
as bicas. Enche os quartos femininos de pó de rubis ardendo...
Oh!
O mosquitinho bêbado no mictório do albergue, amoroso da borragem”, e que
dissolve um raio!
Jean Nicholas
Arthur Rimbaud: sua saga atormentada através da África deserta da segunda
metade do século passado, sua rumorosa ligação com o também genial poeta
Verlaine, sua infância repleta de livros e fugas. Do garoto-prodígio que fazia
versos em latim na Charleville onde nasceu em 1854 ao hospital de Marselha,
onde chegou mutilado e infeliz para morrer aos 37 anos, temos aqui as andanças,
a vida e a obra do autor de Uma Estação no Inferno e Iluminações. Por que
este homem escreveu sua obra genial até os 19 anos e a partir daí jamais
escreveu um verso? Por que a fuga dramática da Europa para uma vida de
privações na África longínqua, amealhando dinheiro compulsivamente? Por que,
quando perguntado se era parente de um poeta francês de nome Rimbaud ele dizia
apenas: "Nunca ouvi falar"?
Fonte: "Rimbaud por ele mesmo", ed. Martin Claret - tradução: Daniel Fresnot.
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