terça-feira, 31 de julho de 2012
terça-feira, 24 de julho de 2012
Trajetos Noturnos
Curta de animação produzido em Stop-Motion no qual se
remete a um trajeto noturno pela cidade de BH sob o olhar de um suposto
andante.
Por Daniel Neto
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Conto: A Máscara da Morte Rubra - Edgar Allan Poe
A “Morte Rubra” havia muito
devastava o país. Jamais se viu peste tão fatal ou tão hedionda. O sangue era
sua revelação e sua marca. A cor vermelha e o horror do sangue. Surgia com
dores agudas e súbita tontura, seguidas de profuso sangramento pelos poros, e
então a morte. As manchas rubras no corpo e principalmente no rosto da vítima
eram o estigma da peste que a privava da ajuda e compaixão dos semelhantes. E
entre o aparecimento, a evolução e o fim da doença não se passava mais de meia
hora.
Mas o príncipe Próspero era
feliz, destemido e astuto. Quando a população de seus domínios se reduziu à
metade, mandou vir à sua presença um milhar de amigos sadios e divertidos
dentre os cavalheiros e damas da corte e com eles retirou-se, em total reclusão,
para um dos seus mosteiros encastelados. Era uma construção imensa e magnífica,
criação do gosto excêntrico, mas grandioso do próprio príncipe. Circundava-a a
muralha forte e muito alta, com portas de ferro. Depois de entrarem, os
cortesãos trouxeram fornalhas e grandes martelos para soldar os ferrolhos.
Resolveram não permitir qualquer meio de entrada ou saída aos súbitos impulsos
de desespero dos que estavam fora ou aos furores do que estavam dentro. O
mosteiro dispunha de amplas provisões. Com essas precauções, os cortesãos
podiam desafiar o contágio. O mundo externo que cuidasse de si mesmo. Nesse
meio-tempo era tolice atormentar-se ou pensar nisso. O príncipe havia
providenciado toda a espécie de divertimentos. Havia bufões, improvisadores,
dançarinos, músicos, beleza, vinho. Lá dentro, tudo isso mais segurança. Lá
fora, a “Morte Rubra”.
Lá pelo final do quinto ou
sexto mês de reclusão, enquanto a peste grassava mais furiosamente lá fora, o
príncipe Próspero brindou os mil amigos com um magnífico baile de máscaras.
Que voluptuosa cena a
daquela mascarada! Mas antes descrevamos os salões em que ela se desenrolava.
Era uma série imperial de sete salões. Em muitos palácios, porém, esses salões
formam uma perspectiva longa e reta, quando as portas se abrem até se
encostarem nas paredes de ambos os lados, de tal modo que a vista de toda essa
sucessão é quase desimpedida. Ali, a situação era muito diferente, como se
devia esperar da paixão do príncipe pelo fantástico. Os salões estavam
dispostos de maneira tão irregular que os olhos só podiam abarcar pouco mais de
cada um por vez. Havia um desvio abrupto a cada vinte ou trinta metros e, a
cada desvio, um efeito novo. À direita e à esquerda, no meio de cada parede,
uma alta e estreita janela gótica dava para um corredor fechado que acompanhava
as curvas do salão. A cor dos vitrais dessas janelas variava de acordo com a
tonalidade dominante na decoração do salão para o qual se abriam. O da
extremidade leste, por exemplo, era azul – e de um azul intenso eram suas janelas.
No segundo salão os ornamentos e tapeçarias, assim como as vidraças, eram cor
de púrpura. O Terceiro era inteiramente verde, e verdes também os caixilhos das
janelas. O quarto estava mobiliado e iluminado com cor alaranjada. O quinto era
branco, e o sexto, roxo. O sétimo salão estava todo coberto por tapeçarias de
veludo negro, que pendiam do teto e pelas paredes, caindo em pesadas dobras
sobre um tapete do mesmo material e tonalidade. Apenas nesse salão, porém, a
cor das janelas deixava de corresponder à das decorações. Aa vidraças, ali,
eram rubras – de uma violenta cor de sangue.
Ora, em nenhum dos sete
salões havia qualquer lâmpada ou candelabro, em meio à profusão de ornamentos
de ouro espalhados por todos os cantos ou dependurados do teto. Nenhuma lâmpada
ou vela iluminava o interior da seqüência de salões. Mas nos corredores que
circundavam a suíte havia, diante de cada janela, um pesado tripé com um
braseiro, que projetava seus raios pelos vitrais coloridos e, assim, iluminava
brilhantemente a sala, produzindo grande número de efeitos vistosos e
fantásticos. Mas no salão oeste, ou negro, o efeito do clarão de luz que
jorrava sobre as cortinas escuras através das vidraças da cor do sangue era
desagradável ao extremo e produzia uma expressão tão desvairada no semblante
dos que entravam que poucos no grupo sentiam ousadia bastante para ali
penetrar.
Era também nesse apartamento
que se achava, encostado à parede oeste, um gigantesco relógio de ébano. Seu
pêndulo oscilava de um lado para o outro com um bater surdo, pesado, monótono;
quando o ponteiro dos minutos completava o circuito do mostrador e o relógio ia
dar as horas, de seus pulmões de bronze brotava um som claro, alto, grave e
extremamente musical, mas em tom tão enfático e peculiar que, ao final de cada
hora, os músicos da orquestra se viam obrigados a interromper momentaneamente a
apresentação para escutar-lhe o som; com isso os dançarinos forçosamente tinham
de parar as evoluções da valsa e, por um breve instante, todo o alegre grupo
mostrava-se perturbado; enquanto ainda soavam os carrilhões do relógio,
observava-se que os mais frívolos empalideciam e os mais velhos e serenos
passavam a mão pela teste, como se estivessem num confuso devaneio ou
meditação. Mas, assim que os ecos desapareciam interiormente, risinhos levianos
logo se riam do próprio nervosismo e insensatez e, em sussurros, diziam uns aos
outros que o próximo soar de horas não produziria neles a mesma emoção; mas,
após um lapso de sessenta minutos (que abrangem três mil e seiscentos segundos
do tempo que voa), quando o relógio dava novamente as horas, acontecia a mesma
perturbação e idênticos tremores e gestos de meditação de antes.
Apesar disso tudo, que festa
alegre e magnífica! Os gostos do príncipe eram estranhos. Sabia combinar cores
e efeitos. Menosprezando a mera decoração da moda, seus arranjos mostravam-se
ousados e veementes, e suas idéias brilhavam com um esplendor bárbaro. Alguns
podiam considerá-lo louco, sendo desmentidos por seus seguidores. Mas era
preciso ouvi-lo, vê-lo e tocá-lo para convencer-se disso.
Para essa grande festa, ele
próprio dirigiu, em grande parte, a ornamentação cambiante dos sete salões, e
foi seu próprio gosto que inspirou as fantasias dos foliões. Claro que eram
grotescas. Havia muito brilho, resplendor, malícia e fantasia – muito daquilo
que foi visto depois no Hernani. Havia figuras fantásticas com membros e
adornos que não combinavam. Havia caprichos delirantes como se tivessem sido
modelados por um louco. Havia muito de beleza, muito de libertinagem e de
extravagância, algo de terrível e um tanto daquilo que poderia despertar
repulsa. De um ao outro, pelos sete salões, desfilava majestosamente, na
verdade, uma multidão de sonhos. E eles – os sonhos – giravam sem parar,
assumindo a cor de cada salão e fazendo com que a impetuosa música da orquestra
parecesse o eco de seus passos. Daí a pouco soa o relógio de ébano colocado no
salão de veludo. Então, por um momento, tudo se imobiliza e é tudo silêncio,
menos a voz do relógio. Os sonhos se congelam como estão. Mas os ecos das
batidas extinguem-se – duraram apenas um instante – e risos levianos, mal
reprimidos, flutuam atrás dos ecos, à medida que vão morrendo. E logo a música
cresce de novo, e os sonhos revivem e rodopiam mais alegremente que nunca,
assumindo as cores das muitas janelas multicoloridas, através das quais fluem
os raios luminosos dos tripés. Ao salão que fica a mais oeste de todos os sete,
porém, nenhum dos mascarados se aventura agora; pois a noite está se
aproximando do fim: ali flui uma luz mais vermelha pelos vitrais cor de sangue
e o negror das cortinas escuras apavora; para aquele que pousa o pé no tapete
negro, do relógio de ébano ali perto chega um clangor ensurdecido mais solene e
enfático que aquele que atinge os ouvidos dos que se entregam às alegrias nos
salões mais afastados.
Mas nesses outros salões
cheios de gente batia febril o coração da vida. E o festim continuou em
remoinhos até que, afinal, começou a soar meia-noite no relógio. Então a música
cessou, como contei, as evoluções dos dançarinos se aquietaram, e, como antes,
tudo ficou intranqüilamente imobilizado. Mas agora iriam ser doze as badaladas
do relógio; e desse modo mais pensamentos talvez tenham se infiltrado, por mais
tempo, nas meditações dos mais pensativos, entre aqueles que se divertiam. E
assim também aconteceu, talvez, que, antes de os últimos ecos da última
badalada terem mergulhado inteiramente no silêncio, muitos indivíduos na
multidão puderam perceber a presença de uma figura mascarada que antes não
chamara a atenção de ninguém. E, ao se espalhar em sussurros o rumor dessa nova
presença, elevou-se aos poucos de todo o grupo um zumbido ou murmúrio que
expressava a reprovação e surpresa – e, finalmente, terror, horror e repulsa.
Numa reunião de fantasmas
como esta que pintei, pode-se muito bem supor que nenhuma aparência comum
poderia causar tal sensação. Na verdade, a liberdade da mascarada dessa noite
era praticamente ilimitada; mas a figura em questão ultrapassava o próprio
Herodes, indo além dos limites até do indefinido decoro do príncipe. Existem
cordas, nos corações dos mais indiferentes, que não podem ser tocadas sem
emoção. Até para os totalmente insensíveis, para quem a vida e morte são alvo
de igual gracejo, existem assuntos com os quais não se pode brincar. Na
verdade, todo o grupo parecia agora sentir profundamente que na fantasia e no
rosto do estranho não existia graça nem decoro. A figura era alta e esquálida,
envolta do pés a cabeça em vestes mortuárias. A máscara que escondia o rosto procurava
assemelhar-se de tal forma com a expressão enrijecida de um cadáver que até
mesmo o exame mais atento teria dificuldade em descobrir o engano. Tudo isso
poderia ter sido tolerado, e até aprovado, pelos loucos participantes da festa,
se o mascarado não tivesse ousado encarnar o tipo da Morte Rubra. Seu vestuário
estava borrifado de sangue, e sua alta testa, assim como o restante do rosto,
salpicada com o horror rubro.
Quando os olhos do príncipe
Próspero pousaram nessa imagem espectral (que andava entre os convivas com
movimentos lentos e solenes, como se quisesse manter-se à altura do papel),
todos perceberam que ele foi assaltado por um forte estremecimento de terror ou
repulsa, num primeiro momento, mas logo o seu semblante tornou-se vermelho de raiva.
- Quem ousa…? perguntou com
voz rouca aos convivas que estavam perto – quem ousa nos insultar com essa
caçoada blasfema? Peguem esse homem e tirem sua máscara, para sabermos quem
será enforcado no alto dos muros, ao amanhecer!
O príncipe Próspero estava
na sala leste, ou azul, ao dizer essas palavras. Elas ressoaram pelos sete
salões, altas e claras, pois o príncipe era um homem ousado e robusto e a
música se calara com um sinal de sua mão.
O príncipe achava-se no
salão azul com um grupo de pálidos convivas ao seu lado. Assim que falou, houve
um ligeiro movimento dessas pessoas na direção do intruso, que, naquele
momento, estava bem ao alcance das mãos, e agora, com passos decididos e
firmes, se aproximava do homem que tinha falado. Mas por causa de um certo
temor sem nome, que a louca arrogância do mascarado havia inspirado em toda a
multidão, não houve ninguém que estendesse a mão para detê-lo; de forma que,
desimpedido , passou a um metro do príncipe e, enquanto a vasta multidão, como
por um único impulso, se retraía do centro das salas para as paredes, ele
continuou seu caminho sem deter-se, no mesmo passo solene e medido que o
distinguira desde o inicio, passando do salão azul para o púrpura, do púrpura
para o verde, do verde para o alaranjado, e desse ainda para o branco, e daí
para o roxo, antes que se fizesse qualquer movimento decisivo para dete-lo. Foi
então que o príncipe Próspero, louco de raiva e vergonha por sua momentânea
covardia, correu apressadamente pelos seis salões, sem que ninguém o seguisse
por causa do terror mortal que tomara conta de todos. Segurando bem alto um
punhal desembainhado, aproximou-se, impetuosamente, até cerca de um metro do
vulto que se afastava, quando este, ao atingir a extremidade do salão de
veludo, virou-se subitamente e enfrentou seu perseguidor. Ouviu-se um grito
agudo e o punhal caiu cintilando no tapete negro, sobre o qual, no instante
seguinte, tombou prostrado de morte o príncipe Próspero. Então, reunindo a
coragem selvagem do desespero, um bando de convivas lançou-se imediatamente no
apartamento negro e, agarrando o mascarado, cuja alta figura permanecia ereta e
imóvel à sombra do relógio de ébano, soltou um grito de pavor indescritível, ao
descobrir que, sob a mortalha e a máscara cadavérica, que agarravam com tamanha
violência e grosseria, não havia qualquer forma palpável.
E então reconheceu-se a
presença da Morte Rubra. Viera como um ladrão na noite. E um a um foram caindo
os foliões pelas salas orvalhadas de sangue, e cada um morreu na mesma posição
de desespero em que tombou ao chão. E a vida do relógio de ébano dissolveu-se
junto com a vida do último dos dissolutos. E as chamas dos braseiros
extinguiram-se. E o domínio ilimitado das Trevas, da Podridão e da Morte Rubra
estendeu-se sobre tudo.
Edgar Allan Poe - Histórias Extraordinárias
Friedrich Nietzsche - Humano, Demasiado Humano - Documentário Completo
Friedrich Wilhelm Nietzsche, (15 de outubro de 1844 - 25
de agosto de 1900) foi um filósofo do século 19, alemão, poeta, compositor e
filólogo clássico. Escreveu textos críticos sobre a religião, a moral, a
cultura contemporânea, filosofia e ciência, mostrando uma predileção por
ironia, metáfora e aforismo.
A influência de Nietzsche continua a ser substancial dentro e além da filosofia, nomeadamente no niilismo, existencialismo e pós-modernismo. Seu estilo e questionamento radical do valor e objetividade da verdade resultaram em muitos comentários e interpretação, principalmente na tradição continental. Suas idéias principais incluem a morte de Deus, o perspectivismo, o Übermensch, amor fati, o eterno retorno, ea vontade de poder. Central à sua filosofia é a idéia de "vida-afirmação", que envolve um questionamento honesto de todas as doutrinas que as energias expansivas vida de drenagem, porém socialmente prevalente essas opiniões poderiam ser.
Nietzsche começou sua carreira como um filólogo clássico antes de ligar para a filosofia. Em 1869, com a idade de 24 ele foi nomeado para a cadeira de Filologia Clássica na Universidade de Basel (o mais jovem indivíduo ter realizado esta posição), mas demitiu-se no verão de 1879 devido a problemas de saúde que o atormentava mais de sua vida. Em 1889 ele tornou-se doente mental com o que foi então caracterizado como paralisia geral atípica atribuída a sífilis terciária, um diagnóstico que, desde então, entrar em question.He viveu seus últimos anos sob os cuidados de sua mãe até sua morte em 1897, então sob os cuidados de sua irmã até sua morte em 1900.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Nietzsche
A influência de Nietzsche continua a ser substancial dentro e além da filosofia, nomeadamente no niilismo, existencialismo e pós-modernismo. Seu estilo e questionamento radical do valor e objetividade da verdade resultaram em muitos comentários e interpretação, principalmente na tradição continental. Suas idéias principais incluem a morte de Deus, o perspectivismo, o Übermensch, amor fati, o eterno retorno, ea vontade de poder. Central à sua filosofia é a idéia de "vida-afirmação", que envolve um questionamento honesto de todas as doutrinas que as energias expansivas vida de drenagem, porém socialmente prevalente essas opiniões poderiam ser.
Nietzsche começou sua carreira como um filólogo clássico antes de ligar para a filosofia. Em 1869, com a idade de 24 ele foi nomeado para a cadeira de Filologia Clássica na Universidade de Basel (o mais jovem indivíduo ter realizado esta posição), mas demitiu-se no verão de 1879 devido a problemas de saúde que o atormentava mais de sua vida. Em 1889 ele tornou-se doente mental com o que foi então caracterizado como paralisia geral atípica atribuída a sífilis terciária, um diagnóstico que, desde então, entrar em question.He viveu seus últimos anos sob os cuidados de sua mãe até sua morte em 1897, então sob os cuidados de sua irmã até sua morte em 1900.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Nietzsche
Poemas - Arthur Rimbaud
"A eternidade é o mar mesclado
ao sol."
Da série Rimbaud in New York, de David Wojnarowicz.
Os corvos
Arthur Rimbaud
Ó Deus, quando frio é o prado,
Quando as aldeias se abalaram,
Os longos ângelus se calaram...
Sobre o mato descampado
Faça cair dos altos céus
Os queridos corvos deliciosos.
Estranho exército de gritos severos,
Ventos frios atacam vossos ninhos!
Vós, ao longo dos rios daninhos,
Nos caminhos de antigos calvários,
Nas covas e nas fossas
Dispersai-vos, agrupai-vos!
Aos milhares, nos campos de França,
Onde dormem mortos de ontem,
Volteiem, no inverno, afrontem,
Para que cada um repense!
Seja quem clama pelo dever
Ó nosso fúnebre pássaro negro!
Mas, santos do céu, no alto da árvore,
Mastro perdido na noite benta,
Deixem os pássaros de maio
Para quem na floresta acorrenta,
Da grama de onde não se foge,
A derrota sem futuro.
Canção da Mais Alta da Torre I
Ociosa juventude
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! Que venha o dia
Em que os corações se amem.
Eu me dissea: cessa,
E ninguém te via:
E sem a promessa
De mais alta alegria.
Que nada te detenha
Grandiosa retirada.
Tive tanta paciência
Que para sempre esqueço;
Temor e penitência
Aos céus partiram.
E a sede doentia
Me escurece as veias.
Assim o prado
Ao esquecimento deixado,
Engrandece, e floresce
De joio e incenso
Ao zumbir tenso
De cem moscas sujas.
Ah! Tanta viuvez
Da alma que chora
E só tem a imagem
Da Nossa Senhora!
Será que se ora
À Virgem Maria?
Ociosa juventude
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! Que venha o dia
Em que os coraçõres se amem!
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! Que venha o dia
Em que os corações se amem.
Eu me dissea: cessa,
E ninguém te via:
E sem a promessa
De mais alta alegria.
Que nada te detenha
Grandiosa retirada.
Tive tanta paciência
Que para sempre esqueço;
Temor e penitência
Aos céus partiram.
E a sede doentia
Me escurece as veias.
Assim o prado
Ao esquecimento deixado,
Engrandece, e floresce
De joio e incenso
Ao zumbir tenso
De cem moscas sujas.
Ah! Tanta viuvez
Da alma que chora
E só tem a imagem
Da Nossa Senhora!
Será que se ora
À Virgem Maria?
Ociosa juventude
A tudo oprimida,
Por delicadeza
Perdi minha vida.
Ah! Que venha o dia
Em que os coraçõres se amem!
Canção da Mais Alta da Torre II
Que
venha, que venha
O
tempo da paixão...
Tive
tanta paciência
Que
para sempre esqueço.
Temor
e penitência
Aos
céus partiram.
E a
sede doentia
Me
escurece as veias.
Que
venha, que venha
O
tempo da paixão.
Assim
o prado
Ao
esquecimento deixado,
Engrandece,
e floresce
De
joio e incenso,
Ao
zumbir tenso
Das
moscas sujas.
Que
venha, que venha,
A
paixão que se empenha.
Eu
amava o deserto, os pomares queimados, as lojas desbotadas, as bebidas mornas.
Eu me arrastava nas vielas fedidas e, os olhos cerrados, me oferecia ao sol,
deus de fogo.
“General,
se sobrar um velho canhão nas tuas muralhas em ruínas, bombardea-nos com blocos
de terra seca. Nas vitrines das lojas maravilhosas! Nos salões! Faz a cidade
comer o seu pó.
Enferruja
as bicas. Enche os quartos femininos de pó de rubis ardendo...
Oh!
O mosquitinho bêbado no mictório do albergue, amoroso da borragem”, e que
dissolve um raio!
Jean Nicholas
Arthur Rimbaud: sua saga atormentada através da África deserta da segunda
metade do século passado, sua rumorosa ligação com o também genial poeta
Verlaine, sua infância repleta de livros e fugas. Do garoto-prodígio que fazia
versos em latim na Charleville onde nasceu em 1854 ao hospital de Marselha,
onde chegou mutilado e infeliz para morrer aos 37 anos, temos aqui as andanças,
a vida e a obra do autor de Uma Estação no Inferno e Iluminações. Por que
este homem escreveu sua obra genial até os 19 anos e a partir daí jamais
escreveu um verso? Por que a fuga dramática da Europa para uma vida de
privações na África longínqua, amealhando dinheiro compulsivamente? Por que,
quando perguntado se era parente de um poeta francês de nome Rimbaud ele dizia
apenas: "Nunca ouvi falar"?
Fonte: "Rimbaud por ele mesmo", ed. Martin Claret - tradução: Daniel Fresnot.
"Eclipse Total" (amor, Rimbaud e Verlaine) Filme Completo Legendas em po...
O filme conta a história do encontro visceral entre os
poetas franceses Arthur Rimbaud (Leonardo DiCaprio) e Paul Verlaine (David
Thewlis). Impressionado pelo talento e espontaneidade do jovem Rimbaud, o
veterano Verlaine se aproxima do rapaz. Em noites regadas a absinto, os dois
estreitam a amizade, descobrem o amor entre eles e escrevem alguns de seus
poemas mais famosos. Porém, as amarras da sociedade e a própria intensidade da
paixão entre eles começam a minar o relacionamento, mas a beleza desse encontro
estelar brilha para o sempre no céu purpura da absoluta grandesa humana.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Exposição Maldita 3.0
Formada por uma programação
“rock and roll”, a Rádio Fluminense FM - apelidada pelos seus criadores de
“Maldita” - entrou no ar em 1982. Em seus primeiros anos de funcionamento, a
Fluminense teve como missão dar voz à geração de 1980. A Exposição “Maldita 3.0”
celebra os 30 anos apresentando painéis com bate-papos entre ex-integrantes,
jornalistas e produtores culturais, além de todo o acervo da Rádio, como fotos,
objetos, documentos, livros, gravações de entrevistas, prêmios, discos
promocionais e filmes. O público vai poder ver a remontagem do primeiro estúdio
da Rádio, com equipamentos originais da época, e a exibição do curta-metragem
“A Maldita”. A exposição reúne fotos inéditas, tiradas ao longo dos anos de
funcionamento da Rádio, e uma série de fotos da primeira edição do festival
Rock in Rio, pertencentes ao acervo do Festival. Entre os objetos expostos
estão guitarras de Oasis, Echo and The Bunnymen, da Legião Urbana, da Plebe
Rude; a bateria de Foo Fighters; o violão da cantora Cássia Eller e Skate do
Beastie Boys autografado pelos seus integrantes, incluindo o falecido
MCA.
Para quem viveu a época da Maldita, dedico-lhe esse pequeno registro.
Veja algumas fotos da exposição:
Por Jacqueline Gaudard
Carta de ouvinte para a galera da rádio Fluminense Maldita.
Guitarra Oasis
Vale a pena conferir a exposição!!!
A exposição acontece até o
dia 12 de agosto, sempre de terça à domingo, de 12h às 19h, no Centro Cultural
dos Correios – Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro (próximo ao CCBB). Para
maiores informações, acesse o site www.maldita30.com ou ligue para (21) 2253-1580.
domingo, 1 de julho de 2012
Alexandro Aguiar - Dalí atômico
Apresento neste vídeo o artista em seu processo de criação da obra. Vídeo muito interessante que registra o olhar do artista perante a obra de arte, e que nos leva a embarcar junto dela nessa viagem plástica do universo artístico. Fantástico, vale a pena conferir!!!
Alexandro Aguiar é artista plástico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Impressionante!
Em
23 de junho de 2012.
Cerca
de 1.700 pessoas posaram nuas para um fotógrafo americano, em Munique, na
Alemanha.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/album/album-do-dia/2012/06/23/imagens-do-dia---23-de-junho-de-2012.htm#fotoNav=4
Jorge Amado - Gabriela, cravo e canela (Primeira Parte)
DE ELOGIO À LEI E À JUSTIÇA OU SOBRE
NASCIMENTO E NACIONALIDADE
Era comum
tratarem-no de árabe, e mesmo de turco, fazendo-se assim necessário de logo
deixar completamente livre de qualquer dúvida a condição de brasileiro, nato e
não naturalizado, de Nacib. Nascera na Síria, desembarcara em Ilhéus com quatro
anos, vindo num navio francês até à Bahia. Naquele tempo, no rastro do cacau
dando dinheiro, chegavam à cidade de alastrada fama, diariamente, pelos
caminhos do mar, do rio e da terra, nos navios, nas barcaças e lanchas, nas
canoas, no lombo dos burros, a pé abrindo picadas, centenas e centenas de
nacionais e estrangeiros oriundos de toda parte: de Sergipe e do Ceará, de
Alagoas e da Bahia, do Recife e do Rio, da Síria e da Itália, do Líbano e de
Portugal, da Espanha e de ghettos variados. Trabalhadores, comerciantes, jovens
em busca de situação, bandidos e aventureiros, um mulherio colorido, e até um
casal de gregos surgidos só Deus sabe como. E todos eles, mesmo os loiros
alemães da recém-fundada fábrica de chocolate em pó e os altaneiros ingleses da
estrada de ferro, não eram senão homens da zona do cacau, adaptados aos
costumes da região ainda semibárbara com suas lutas sangrentas, tocaias e mortes.
Chegavam e em pouco eram ilheenses dos melhores, verdadeiros grapiúrias
plantando roças, instalando lojas e armazéns, rasgando estradas, matando gente,
jogando nos cabarés, bebendo nos bares, construindo povoados de rápido
crescimento, rompendo a seiva ameaçadora, ganhando e perdendo dinheiro,
sentindo-se tão dali como os mais antigos ilheenses, os filhos das famílias de
antes do aparecimento do cacau.
Graças a essa gente
diversa, Ilhéus começara a perder seu ar de acampamento de jagunços, a ser uma
cidade. Eram todos, mesmo o último dos vagabundos chegado para explorar os
coronéis enriquecidos, fatores do assombroso progresso da zona.
Já
ilheenses por fora e por dentro, além de brasileiros naturalizados, eram os
parentes de Nacib, uns Askar envolvidos nas lutas pela conquista da terra, onde
seus feitos foram dos mais heróicos e comentados. Só encontram eles comparação
com os dos Badarós, de Braz Damásio, do célebre negro José Nique, do coronel
Amâncio Leal. Um deles, de nome Abdula, o terceiro em idade, morreu nos fundos
de um cabaré em Pirangi, após abater três dos cinco jagunços mandados contra
ele, quando disputava pacífica partida de pôquer. Os irmãos vingaram sua morte
de forma inesquecível. Para saber desses parentes ricos de Nacib, basta
compulsar os anais do júri, ler os discursos do promotor e dos advogados.
De
árabe e turco muitos o tratavam, é bem verdade. Mas o faziam exatamente seus
melhores amigos e o faziam numa expressão de carinho, de intimidade. De turco
ele não gostava que o chamassem, repelia irritado o apodo, por vezes chegava a
se aborrecer:
-
Turco é a mãe!
-
Mas, Nacib...
-
Tudo que quiser, menos turco. Brasileiro - batia com a mão enorme no peito
cabeludo - filho de sírios, graças a Deus.
-
Árabe, turco, sírio, é tudo a mesma coisa.
-
A mesma coisa, um corno! Isso é ignorância sua. É não conhecer história e
geografia. Os turcos são uns bandidos, a raça mais desgraçada que existe. Não
pode haver insulto pior para um sírio que ser chamado de turco.
-
Ora, Nacib, não se zangue. Não foi para lhe ofender. É que essas, coisas das
estranjas pra gente é tudo igual...
Talvez assim o chamassem menos por sua ascendência levantina que pelos
bigodões negros de sultão destronado, a descer-lhe pelos lábios, cujas pontas
ele cofiava ao conversar. Frondosos bigodes plantados num rosto gordo e
bonachão, de olhos desmesurados, fazendo-se cúpidos à passagem das mulheres.
Boca gulosa, grande e de riso fácil. Um enorme brasileiro, alto e gordo, cabeça
chata e farta cabeleira, ventre demasiadamente crescido, barriga de nove meses,
como pilheriava o Capitão ao perder uma partida no tabuleiro de damas.
-
Na terra de meu pai... - assim começavam suas histórias nas noites de conversas
longas, quando nas mesas do bar ficavam apenas uns poucos amigos.
Porque sua terra era Ilhéus, a cidade alegre ante o mar, as roças de
cacau, aquela zona ubérrima onde se fizera homem. Seu pai e seus tios, seguindo
o exemplo dos Askar, vieram primeiro, deixando as famílias. Ele embarcara depois,
com a mãe e a irmã mais velha, de seis anos, Nacib ainda não completara os
quatro. Lembrava-se vagamente da viagem na terceira classe, o desembarque na
Bahia onde o pai fora esperá-los. Depois a chegada a Ilhéus, a vinda para a
terra numa canoa, pois naquele tempo nem ponte de desembarque existia. Do que
não se recordava mesmo era da Síria, não lhe ficara lembrança da terra natal
tanto se misturara ele à nova pátria, e tanto se fizera brasileiro e ilheense.
Para Nacib era como se houvesse nascido no momento mesmo da chegada do navio à
Bahia, ao receber o beijo do pai em lágrimas. Aliás, a primeira providencia do
mascate. Aziz, após chegar a Ilhéus, foi conduzir os filhos a Itabuna,
então Tabocas, ao cartório do velho Segismundo, para registrá-los brasileiros.
Processo rápido de naturalização que o respeitável tabelião praticava, com a perfeita consciência do dever cumprido, por uns quantos mil-réis. Não tendo alma de explorador, cobrava barato, colocando a operação legal ao alcance de todos, fazendo desses filhos de imigrantes, quando não dos próprios imigrantes vindos trabalhar em nossa terra, autênticos cidadãos brasileiros, vendendo-lhes boas e válidas certidões de nascimento.
Acontece ter sido o antigo cartório incendiado, numa daquelas lutas pela conquista da terra, para que o fogo devorasse indiscretas medições e escrituras da mata do Sequeiro Grande - isso está até contado num livro. Não era culpa de ninguém, portanto, muito menos do velho Segismundo, se os livros de registro de nascimentos e óbitos, todos eles, tinham sido consumidos no incêndio, obrigando a novo registro centenas de ilheenses (naquele tempo Itabuna ainda era distrito do município de Ilhéus). Livros de registros não existiam, mas existiam idôneas testemunhas a afirmar que o pequeno Nacib e a tímida Salma, filhos de Aziz e de Zoraia, haviam nascido no arraial de Ferradas e tinham sido anteriormente registrados no cartório, antes do incêndio. Como poderia Segismundo, sem cometer grave descortesia, duvidar da palavra do coronel José Antunes, rico fazendeiro, ou do comerciante Fadel, estabelecido com loja de fazendas, gozando de crédito na praça? Ou mesmo da palavra mais modesta do sacristão Bonifácio, pronto sempre a aumentar seu parco salário servindo em casos assim como fidedigna testemunha? Ou do perneta Fabiano, corrido de Sequeiro do Espinho e que outro meio de vida não possuía além de testemunhar?
Cerca de trinta anos se haviam passado sobre tais fatos. O velho Segismundo morrera cercado da estima geral e ainda hoje seu enterro é recordado. Toda a população comparecera, de há muito ele não tinha inimigos, nem mesmo os que lhe haviam incendiado o cartório.
No seu túmulo falaram oradores, celebraram suas virtudes. Fora afirmaram - um servidor admirável da justiça, exemplo para as gerações futuras.
Processo rápido de naturalização que o respeitável tabelião praticava, com a perfeita consciência do dever cumprido, por uns quantos mil-réis. Não tendo alma de explorador, cobrava barato, colocando a operação legal ao alcance de todos, fazendo desses filhos de imigrantes, quando não dos próprios imigrantes vindos trabalhar em nossa terra, autênticos cidadãos brasileiros, vendendo-lhes boas e válidas certidões de nascimento.
Acontece ter sido o antigo cartório incendiado, numa daquelas lutas pela conquista da terra, para que o fogo devorasse indiscretas medições e escrituras da mata do Sequeiro Grande - isso está até contado num livro. Não era culpa de ninguém, portanto, muito menos do velho Segismundo, se os livros de registro de nascimentos e óbitos, todos eles, tinham sido consumidos no incêndio, obrigando a novo registro centenas de ilheenses (naquele tempo Itabuna ainda era distrito do município de Ilhéus). Livros de registros não existiam, mas existiam idôneas testemunhas a afirmar que o pequeno Nacib e a tímida Salma, filhos de Aziz e de Zoraia, haviam nascido no arraial de Ferradas e tinham sido anteriormente registrados no cartório, antes do incêndio. Como poderia Segismundo, sem cometer grave descortesia, duvidar da palavra do coronel José Antunes, rico fazendeiro, ou do comerciante Fadel, estabelecido com loja de fazendas, gozando de crédito na praça? Ou mesmo da palavra mais modesta do sacristão Bonifácio, pronto sempre a aumentar seu parco salário servindo em casos assim como fidedigna testemunha? Ou do perneta Fabiano, corrido de Sequeiro do Espinho e que outro meio de vida não possuía além de testemunhar?
Cerca de trinta anos se haviam passado sobre tais fatos. O velho Segismundo morrera cercado da estima geral e ainda hoje seu enterro é recordado. Toda a população comparecera, de há muito ele não tinha inimigos, nem mesmo os que lhe haviam incendiado o cartório.
No seu túmulo falaram oradores, celebraram suas virtudes. Fora afirmaram - um servidor admirável da justiça, exemplo para as gerações futuras.
Registrava ele facilmente como nascidos no município de Ilhéus, estado
da Bahia, Brasil, a quanta criança lhe chegasse, sem maiores investigações,
mesmo quando parecia evidente ter-se dado o nascimento bem depois do incêndio.
Não era cético nem formalista nem o podia ser no Ilhéus dos começos do cacau.
Campeava o caxixe, a falsificação de escrituras e medições de terras, as
hipotecas inventadas, os cartórios e tabeliães eram peças importantes na luta
pelo desbravamento e plantio das matas, como distinguir um documento falso de
um verdadeiro? Como pensar em míseros detalhes legais, como o lugar e a data
exata do nascimento de uma criança, quando se vivia perigosamente em meio aos
tiroteios, aos bandos de jagunços armados, às tocaias mortais? A vida era bela
e variada, como iria o velho Segismundo esmiuçar sobre nomes de localidades?
Que importava em realidade onde nascera o brasileiro a registrar, aldeia Síria
ou Ferradas, sul da Itália ou Pirangi, Trás-os-Montes ou Rio do Braço? O velho
Segismundo já tinha demasiadas complicações com os documentos de posse da
terra, por que havia de dificultar a vida de honrados cidadãos que desejavam
apenas cumprir a lei, registrando os filhos? Acreditava simplesmente na palavra
daqueles simpáticos imigrantes, aceitava-lhes os presentes modestos, vinham
acompanhados de testemunhas idôneas, pessoas respeitáveis, homens cuja palavra,
por vezes, valia mais que qualquer documento legal.
E,
se alguma dúvida perdurava-lhe no espírito por acaso, não era o pagamento mais
elevado do registro e da certidão, o corte de fazenda para sua esposa, a
galinha ou o peru para o quintal, que o punham em paz com sua consciência. Era
que ele, como a maioria da população, não media pelo nascimento o verdadeiro
grapiúna, e, sim, pelo seu trabalho em benefício da terra, pela sua coragem de
entrar na selva e afrontar a morte, pelos pés de cacau plantados ou pelo número
de portas das lojas e armazéns, pela sua contribuição ao desenvolvimento da
zona. Essa era a mentalidade de Ilhéus, era também a do velho Segismundo, homem
de larga experiência da vida, de ampla compreensão humana e de poucos
escrúpulos. Experiência e compreensão colocadas a serviço da região cacaueira.
Quanto aos escrúpulos, não foram com eles que progrediram as cidades do sul da
Bahia, que se rasgaram as estradas, plantaram-se as fazendas, criou-se o
comércio, construiu-se o porto, elevaram-se edifícios, fundaram-se jornais,
exportou-se cacau para o mundo inteiro. Foi com tiros e tocaias, com falsas
escrituras e medições inventadas, com mortes e crimes, com jagunços e
aventureiros, com prostitutas e jogadores, com sangue e coragem. Uma vez
Segismundo lembrara-se de seus escrúpulos. Tratava-se da medição da mata de
Sequeiro Grande e lhe ofereciam pouco para o vulto do caxixe: cresceram-lhe
subitamente os escrúpulos. Em vista disso queimaram-lhe o cartório e
meteram-lhe uma bala na perna. A bala, por engano, isto é: por engano na perna
pois destinava-se ela ao peito de Segismundo. Desde então ficou ele menos escrupuloso
e mais barateiro, mais grapiúna ainda, graças a Deus. Por isso, quando morreu
octogenário, seu enterro transformou-se em verdadeira manifestação de homenagem
a quem fora, naquelas paragens, exemplo de civismo e devoção à justiça.
Por essa mão veneranda fizera-se Nacib brasileiro nato em certa tarde
distante de sua primeira infância, vestido com verde bombacho de veludo
francês.
Jorge Amado, Gabriela, cravo e canela, Primeira Parte: De elogio à Lei e a Justiça ou sobre nascimento e nacionalidade - ed. 79ª - Rio de Janeiro, Record -1998.)
Jorge Amado, Gabriela, cravo e canela, Primeira Parte: De elogio à Lei e a Justiça ou sobre nascimento e nacionalidade - ed. 79ª - Rio de Janeiro, Record -1998.)
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