Confissão
Não quero ser Deus por orgulho.
Não quero ser Deus por orgulho.
Eu tenho esta grande diferença de Satã.
Quero ser Deus por necessidade, por vocação.
Não me conformo nem com o espaço nem com o tempo,
Nem com o limite de coisa alguma.
Tenho fome e sede de tudo,
Implacável
Crescente.
Talvez seja esta a minha diferença de Deus
que tem fome e sede de mim,
implacável,
crescente,
eterna
— De mim, que me desprezo e me acredito um nada.
“Pertenço a esta espécie de homens que não constroem nem
destroem, mas que dão a razão de toda a construção e de toda destruição.”
Poema
para Ela
Acabaram-se
os tempos.
Morreram
as árvores e os homens,
Destruíram-se
as casas,
Submergiram-se
as montanhas.
Depois
o mar desapareceu.
O
mundo transformou-se numa enorme planície
Onde
só existe areia e uma tristeza infinita.
Um
anjo sobrevoa os destroços da terra,
Olhando
a cólera de um Deus ofendido.
E
encontrou nossos dois corpos fortemente enlaçados
Que
a raiva do Senhor não quis destruir
Para
a eterna lembrança do maior amor.
Ismael Nery (Belém PA 1900 -
Rio de Janeiro RJ 1934). Pintor, desenhista, poeta. Muda-se ainda criança
para o Rio de Janeiro onde, em 1917, matricula-se na Escola Nacional de Belas
Artes - Enba. Viaja para França em 1920 e freqüenta a Académie Julian. De volta
ao Rio de Janeiro, no ano seguinte, trabalha como desenhista na seção de
Arquitetura e Topografia da Diretoria do Patrimônio Nacional, órgão ligado ao
Ministério da Fazenda. Lá conhece o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), que se
torna grande amigo e incentivador de sua obra. Em 1922 casa-se com a poeta
Adalgisa Nery (1905 - 1980). Ismael Nery aplica à sua produção os princípios do
Essencialismo, sistema filosófico que ele mesmo cria. Segundo Murilo Mendes,
esse sistema diz respeito às concepções do artista sobre a abstração do tempo e
do espaço. Em 1927, novamente na França, conhece Marc Chagall (1887 -
1985), André Breton (1896 - 1966) e Marcel Noll. A volta ao Brasil marca a
fase surrealista de sua obra, a princípio
por influência de Chagall. Em 1930, contrai tuberculose. Enfermo, seus
trabalhos passam a revelar seu drama pessoal e a fragilidade do corpo.
Falece aos 33 anos. Em 1948, uma série de artigos de Murilo Mendes publicados
nos jornais O Estado de S. Paulo e Letras e Artes busca
resgatar a obra plástica, literária e filosófica do artista. Esquecido, Ismael
Nery, passa a ser valorizado em meados dos anos 1960 com exposições realizadas
em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Para
a eterna lembrança do maior amor.
A
Noiva do Poeta
A minha noiva se reparte toda nas minhas
quatro amantes
Sara,
Ester, Rute e raquel
Sara
tem o seu ar e o seu corpo,
Ester
a sua cor e os seus cabelos,
Rute
tem o seu olhar e seu andar,
Raquel
tem sua boca e sua voz,
A
minha noiva magnífica só existe
Na
minha imaginação.
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